INFORME Nº 1
Pesquisa: Educação escolar em tempos de pandemia na visão de professoras/es da Educação Básica
Com a pandemia causada pelo novo Coronavírus, um número expressivo de escolas no mundo todo teve suas atividades presenciais suspensas. Professoras e professores, agentes fundamentais no processo educacional, viram-se, de um momento para outro, tendo que atuar diante de um contexto de excepcionalidade, e alternativas passaram a ser adotadas com o objetivo de reduzir o prejuízo educacional e a preservação do direito à educação.
No Brasil, 81,9% dos alunos da Educação Básica deixaram de frequentar as instituições de ensino. São cerca de 39 milhões de pessoas. No mundo, esse total soma 64,5% dos estudantes, o que, em números absolutos, representa mais de 1,2 bilhão de pessoas, segundo dados da UNESCO.
Duas questões ganharam destaque no debate nacional: garantir que os estudantes não sejam prejudicados em seu processo de escolarização e evitar o acirramento das desigualdades de acesso e de oportunidades.
Nesse cenário, o Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundação Carlos Chagas, em parceria com a UNESCO do Brasil e com o Itaú Social, propôs uma pesquisa com o objetivo de verificar como as professoras e os professores das redes públicas e privadas do Brasil estavam desenvolvendo suas atividades nas primeiras semanas de isolamento social, conciliando o trabalho com a vida privada e quais suas expectativas para o período pós-pandemia.
Os resultados desse estudo serão apresentados em boletins periódicos. Com o intuito de tornar a leitura fluida, foi priorizado o uso do termo professoras, por reconhecer que a categoria docente na Educação Básica é majoritariamente feminina; e alunos, pela equivalência de sexo entre os estudantes. As informações aqui apresentadas, a partir de uma amostra por conveniência, partem de um estudo exploratório que deve ser lido como tendência. O panorama apresentado permite reflexões e sinaliza possíveis desafios no momento vivido por professoras durante a pandemia.
Os nossos mais sinceros agradecimentos a todas as professoras e professores que participaram dessa etapa da pesquisa.
Rotina de trabalho
No momento do lançamento do questionárioon-line, as escolas estavam preparando ou aprimorando a rotina escolar não presencial. Observa-se a preocupação das docentes em organizar o tempo com os alunos, garantindo o conteúdo das disciplinas. Dentre as estratégias utilizadas pelas professoras, ressalta-se o uso de materiais digitais via redes sociais (e-mail, WhatsApp, etc.) em todas as etapas/modalidades.
Para mais de 65% das respondentes, o trabalho pedagógico mudou e aumentou, com destaque para as atividades que envolvem interface e/ou interação digital
ESTRATÉGIAS EDUCACIONAIS
Destaca-se, na educação infantil (60%) e no ensino fundamental (65%), o envio de orientações às famílias para estímulo e acompanhamento das atividades realizadas em casa. Observa-se a preocupação das docentes em organizar o tempo com os alunos garantindo o conteúdo das disciplinas.
Quase oito em cada dez professoras afirmam fazer uso de materiais digitais via redes sociais como estratégia educacional
EFEITOS DO CONTEXTO
A expectativa, tanto em relação à aprendizagem quanto à percepção de que seus alunos conseguem realizar as atividades propostas, está próxima de 50%. Em relação à realização das atividades propostas aos alunos: 33,4% das professoras indicam que a maioria tem realizado; 22,3% percebem que a minoria realiza.
Na avaliação acerca da possível ansiedade/depressão de seus alunos, 34,7% das professoras não souberam informar, entretanto 53,8% consideraram que aumentou.
49,3% das professoras acreditam que somente parte dos alunos consegue realizar as atividades. A expectativa em relação à aprendizagem diminuiu praticamente à metade
RETORNO ÀS AULAS PRESENCIAIS
Para 84,6%, a readequação dos modelos de avaliações surge como um ponto sensível. De fato, a situação imposta pela pandemia exige, de um lado, repensar os conteúdos e as práticas pedagógicas adaptadas para um contexto virtual e, de outro, requer discutir atividades avaliativas considerando a diversidade de situações e condições de vida em que se encontram os estudantes dos diversos níveis de ensino. Não se trata, apenas, de transpor práticas que antes eram feitas presencialmente para contextos virtuais.
O cancelamento do ano letivo estaria no horizonte de somente 11,2%. Há clareza de que, no pós-pandemia, o cotidiano escolar não será o mesmo: para 65,6% das professoras, o rodízio de alunos para evitar aglomeração e, para 55,9%, a continuidade do ensinoon-linejunto com o presencial são prenúncio de mudanças possíveis.
Pouco mais de um terço dos respondentes, 34,5%, defende a necessidade de reposição das aulas e um em cada quatro (25,4%), a prorrogação do ano letivo de 2020 até 2021.
Sobre o retorno das atividades escolares presenciais, a maioria das professoras é favorável a uma readequação nos modelos de avaliações; ao rodízio de alunos; e à continuidade do ensinoon-linejunto com o ensino presencial
RELAÇÃO ESCOLA-FAMÍLIA
Com a suspensão das aulas presenciais, as professoras indicaram um aumento, tanto da relação escola-família (45,6%), quanto do vínculo do aluno com a família (47,2%).
Quase a metade das professoras indica um aumento da relação escola-família e do vínculo do aluno com a família
APOIO DA ESCOLA
Entre as respondentes, 66,8% afirmam sentir-se apoiadas pela escola. No entanto esse percentual é ligeiramente menor entre professoras negras (63,5%) e professores negros (60,2%).
Quase 70% das professoras sentem-se apoiadas pela escola, porém esse percentual é ligeiramente menor entre docentes negras e negros
ATUAÇÃO PROFISSIONAL
Metade das respondentes acumula mais de 15 anos de atuação profissional, trabalha em dois períodos e 44% apresentam uma jornada entre 31 a 40 horas semanais, sobretudo no ensino fundamental. O predomínio é de participantes das escolas públicas, enquanto as instituições privadas representam 15,3%.
Embora a maioria das respondentes esteja recebendo regularmente seus salários, entre aquelas que não estão, o maior percentual é de pessoas negras
PERFIL
Responderam ao questionário principalmente mulheres, brancas e negras, com idade entre 30 e 50 anos, que atuam na escola pública, na área urbana.
PRÓXIMOS PASSOS
Em breve, será divulgado o Informe N. 2, com destaque à interseccionalidade de gênero e raça e às especificidades entre a educação pública e a educação privada.
Novas etapas da pesquisa estão em desenvolvimento, como, por exemplo, um questionárioon-linedirecionado às professoras e aos professores que atuam com alunos público-alvo da educação especial (alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades/superdotação), em classe comum ou no atendimento especializado. O objetivo é identificar, na visão das professoras e dos professores, quais são os desafios enfrentados para garantir o acesso e a participação desse alunado nas aulas remotas, assim como as estratégias propostas com vistas à efetivação do direito à educação na perspectiva inclusiva.
SOBRE A PESQUISA
OBJETIVO DO QUESTIONÁRIO:Verificar como as professoras e os professores das redes públicas e privadas estão desenvolvendo suas atividades, como conciliam o trabalho profissional com a vida privada e quais suas expectativas para o período de retorno às aulas presenciais
RESPONDENTES: 14.285 professoras e professores de todas as 27 Unidades da Federação, das/os quais 51,4% mostraram interesse em seguir contribuindo com as próximas fases da pesquisa
PERÍODO DE COLETA: 30 de abril a 10 de maio de 2020
METODOLOGIA: Amostra não probabilística, por conveniência. Foi realizada testagem piloto e ajustes com especialistas da área
QUESTIONÁRIO: 24 perguntas fechadas e 2 abertas
COLETA DE DADOS:Plataforma Survey Monkey
Fundação Carlos Chagas | Departamento de Pesquisas Educacionais
Coordenação:Lúcia Villas Bôas e Sandra Unbehaum
Pesquisadoras:Adelina Novaes, Adriana Pagaime, Amélia Artes, Cláudia Pimenta, Marina Nunes e Thaís Gava
Estatística: Raquel Valle
Produção editorial e projeto gráfico:Elisângela Fernandes, Mario Luiz Veiga Pirani e Pedro Penafiel
Revisão:Adélia M. Mariano Ferreira